A direção do olhar humano, através da objetiva da máquina, seleciona e recorta num determinado espaço, através de um único instante, a captação de um fragmento de tempo, o momento. A esse momento, Walter Benjamin, ensaísta e crítico literário, chamava-lhe aura.

A aura benjaminiana, instituída como perfil do real, é o que confere ao objeto artístico a sua distinção e o valor de arte. A aura transformou-se num produto da memória que desejamos reativar e que escapa à perceção que temos do mundo atual.

À reprodução da obra de arte falta sempre o seu hic et nunc – o seu aqui e agora, único; a sua aura que existe por si como fenómeno de receção e perceção do indivíduo.

Com a fotografia e o seu modo de reprodução revolucionário, a arte aproxima-se da crise com a reprodução mecanizada, mas “emancipa a obra de arte da sua existência parasitária no ritual. A obra de arte reproduzida torna-se reprodução de uma obra de arte destinada à reprodutibilidade”.

A exposição de Fernando Penim Redondo vai explicar como é que a fácil mecanização e a acessível reprodução atraem, chamam a si o público mais do que a obra de arte, determinada pela multiplicação iminente, rápida e substituível da imagem que ‘penetra’ e disseca mais incisivamente a realidade.

Câmara, lentes e tratamento de imagem proporcionam ritmos de aproximação, distância, isolamento, focagem e ampliações numa rapidez atrativa e sedutora, sendo a imagem e a fotografia determinadas pela sua reprodutibilidade, bem como atualizadas pela sua reprodução e tendência à dissolução da aura.

Esta exposição leva a questionar se a obra de arte fotografada é arte e se a sua reprodução não o é. A fotografia aspira a obra de arte se incluir em si o hic et nunc (aura), afastando a réplica e direcionando-se para o único, o total, através do olhar escolhido e recortado do fotógrafo.

Retro Visão – Um regresso às máquinas e aos rolos fotográficos do século XX poderá ser visitada no Arquivo Municipal, situado na Rua Cesário Verde, em Loures, até 31 de março de 2022, entre as 9h00 e as 12h30 e as 14h00 e as 17h00.

A entrada é livre, mas sujeita a reserva, através do endereço eletrónico arquivo_municipal@cm-loures.pt ou dos telefones 211 150 755 | 211 150 756, e às recomendações da Direcção-Geral da Saúde (DGS).