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História local

Escavação de emergência em Bucelas revela necrópole do século XVII

14.08.2018

As escavações para a construção de um muro de suporte de terras, em Bucelas, pararam em maio, devido à descoberta de uma necrópole dos séculos XVII/XVIII.

 

  • Escavação de emergência em Bucelas revela necrópole do século XVII
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Assim que se chega à Rua Marquês de Pombal, em Bucelas, junto ao Largo Espírito Santo, é impossível ficar indiferente aos trabalhos que, desde o passado mês de maio, vieram comprovar o potencial arqueológico que já havia sido identificado naquele espaço.

Sentados no chão – debaixo de redes de ensombramento – vários jovens escavam, cuidadosamente, tentando trazer ao conhecimento do público elementos com importantes vestígios do passado.

A escavação arqueológica de emergência – assim denominada por decorrer em consequência de obras que foram levadas a cabo naquele local – veio trazer a público um achado com contornos de importância para o património local.

No local de pesquisa estava a ser construído um muro para substituir outro que colapsou, devido às más condições meteorológicas. Ao abrir uma vala, a descoberta de uma necrópole dos séculos XVII/XVIII obrigou a Câmara Municipal de Loures a aplicar medidas excecionais para o salvamento daquele património arqueológico.

 

“Existe aqui um grande potencial e não sabemos o que mais vamos encontrar”

Florbela Estevão, técnica da Câmara de Loures, responsável pelos trabalhos arqueológicos, explica que, apesar das sepultações encontradas remontarem aos séculos XVII e XVIII, “indícios dados pelas faianças e outras cerâmicas encontradas”, esta antiga necrópole deve ocupar todo o Largo do Espírito Santo.

Esta convicção advém do facto de ali estar construída a Igreja Matriz de Bucelas, “mas também porque, já no século XIV, também ali existiu a Capela do Espírito Santo, bem como um hospital medieval que estava anexo. E nessa altura as pessoas eram enterradas dentro das igrejas e no seu adro, considerado todo um campo santo”.

“Portanto, já no período medieval, havia, com certeza, enterramentos associados a estes espaços religiosos”, esclarece Florbela Estevão. “No entanto, dados arqueologicamente comprováveis só temos aqueles que agora estamos a obter, pela primeira vez, com esta escavação, tendo a noção que estamos a intervir numa pequena parcela, que corresponde à que vai ser destruída pelo muro. Esta é apenas uma pequena janela que foi aberta sobre toda a realidade que temos no Largo”.

Para já não há data limite para conclusão dos trabalhos até porque, de acordo com Florbela Estevão, “existe aqui um grande potencial e não sabemos o que mais vamos encontrar”.

 

Conhecer melhor a história local

Entre os achados arqueológicos, estão até ao momento, 25 corpos de indivíduos que já foram exumados. “Estas descobertas dão-nos indícios sobre a utilização do antigo cemitério e sobre os rituais funerários, permitindo conhecer as conceções mentais da população perante a morte”, refere Nathalie Antunes Ferreira, antropóloga e arqueóloga, também responsável pelo decorrer dos trabalhos. “É possível perceber que são cristãos, pois estão virados para nascente e deitados de costas para se levantarem no dia do juízo final”.

Permitem, ainda conhecer a biologia do esqueleto, ou seja, “quantos indivíduos do sexo masculino e feminino, de que estatura, quantas crianças, se a mortalidade infantil era muito elevada, e perceber, igualmente, como viveram e a sua interação com o meio, se ficavam muitas vezes doentes, ou se, pelo contrário, detinham um sistema imunitário forte”, revela Nathalie.

Já é possível avançar com alguns dados: Dos 25 indivíduos, 18 são não adultos, com menos de 20 anos. Existem, ainda dois com menos de dois meses, “o que era normal para a época, pois morriam muitas crianças ao nascer”, explica a antropóloga. Existem também jovens entre 15 e 16 anos, que “provavelmente morreram de doenças infeciosas agudas porque não há marcas nos esqueletos”.

“São poucas as pessoas idosas, o que demonstra que a longevidade não era elevada. Também há situações que ainda não conseguimos identificar, como é o caso de dois indivíduos que têm indícios de violência”. Fraturas, cáries, perda de dentes e artroses, são comuns entre os ossários encontrados.

Nathalie Ferreira avança, ainda que, “a maior parte é do sexo masculino, sendo que a determinação do sexo na criança é muito difícil”.

“Sabemos que os homens são maiores, mais robustos e com aros de inserção muscular mais desenvolvidos. A arquitetura do crânio também é diferente entre homens e mulheres, bem como o osso coxal, normalmente mais desenvolvido nas mulheres”.

Para Florbela Estevão, “esta informação que estamos a reunir é extremamente importante para completar a história local”. Depois de todo o material levantado e recolhido, este seguirá para o museu, onde prosseguirão os estudos. “Iremos continuar, agora, com a investigação documental e análises espaciais, divulgando as conclusões junto da comunidade científica e não só. Existirão, com certeza, outras formas de divulgação, sejam exposições ou livros, de modo a que a história da vila de Bucelas chegue a toda a população, não só do concelho, como do País”.

Mais informação sobre escavações arqueológicas de emergência, através de http://www.cm-loures.pt/media/pdf/PDF20180802103456294.pdf.

 


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